O tempo voa. Ainda ontem os adeptos festejavam alegremente a vitória inebriante da selecção nacional. E foi de tal modo inebriante que hoje, só com muito custo, consegui entender os discursos que por aí andam sobre o emprego.
O jogo, ou a guerra, a partir de agora, parece que será entre quem está empregado e quem não está. Ainda agora, ouvi um senhor muito janota, mesmo assim pró queque, esclarecer-nos que se todos tivermos um bocadinho de emprego é melhor do que se formos estúpidos e quisermos o emprego só para nós.
Enjoo, não sei se a minha boa disposição resistirá a tanto. Desde que há homens inteligentes que parece que andam a tentar evoluir para que pisar a terra do planeta não tenha de ser um acto doloroso. Mas agora as homens que têm o Poder de dar emprego querem repor alguma ordem que andou perdida, ainda que tenha sido só um século (o que também não é um direito que possamos arrogar assim de tão adquirido, dizem). Foi se calhar, digo eu, assim como que uma borla que nos deram para um espectáculo que terminou quando caíu a cortina de ferro.
E como naqueles espectáculos ronceiros e tristes que passam nas aldeias e que a intempérie faz adiar trazendo tristeza ao garotos, que vão sendo animados com o engodo de que será um adiar passageiro, também a nós nos vão dizendo que será temporário. E muito temporário, direi eu.
No fundo será como suspender a democracia um bocadinho. Seis meses, vá.