sexta-feira, 22 de outubro de 2010

e-migrar

Deveria ter emigrado, mas não o fiz. Não foi preciso. Achei que poderia interromper os estudos, começar a trabalhar e depois logo estudaria, porque o que era urgente era tornar-me independente. Mas não, aos 22 anos tornei-me funcionária pública, uma coisa que hoje está ao mesmo nível que ser cigano em França ou judeu na Polónia, no tempo da guerra.

Nos idos de oitenta ser funcionário público não era nada, pois estavam ainda muito presentes os tempos em que eramos poucos e mal pagos. Nos idos de noventa começámos a ser mais, mas ainda mal pagos. A sociedade já se dava conta da nossa existência e olhava para nós como cretinos inábeis incapazes de ganhar o “bom” dinheiro que se ganhava no privado saltando de sucesso em sucesso.

Agora desde 2000 somos os palhaços da festa, custamos dinheiro, somos muitos (de quem será a culpa?) e querem o nosso lugar.

É lamentável que quem nos governa e quem nos quer governar não consiga ultrapassar a sua incompetência a não ser culpando uma ou outra classe. Mas tal como eu sei, eles também sabem, que um grupo é apenas a ponta do iceberg.

Os jornalistas e os políticos não param de incutir ódio sobre nós, mas não serve de muito porque nós pagamos impostos como toda a gente (e eu pago há trinta anos, e se me deixarem pagarei mais 18 anos, com muito gosto), e não é possível, digo eu a não ser que nos enviem para um arquipélago de “goulash”, pois, como qualquer trabalhador, nós se formos despedidos mereceremos indemnizações, subsísdios de desemprego, whatever, ou não? Era mais fácil, mas a vida é como é, e nem sempre é fácil.